«Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.»

Vergílio Ferreira (1919 - 1996)


Pinceladas

28 de fevereiro de 2010

Assertividade Popular

«Um banco rouba um milhão: é negócio.
Um pobre rouba um pão: é ladrão»

26 de fevereiro de 2010

As Mais Famosas Meretrizes Da História (3)


Marie Antoinette

Nas margens d'O Sena

«[...] Paris é a cidade que ri, que ri de tudo, por tudo, através de tudo; que ri nos momentos mais solenes como nos momentos mais cómicos; em frente dos problemas mais importantes e mais complexos, como em face dos assuntos mais frívolos.

(...)

Quando todas as nações choram e se lamentam, a soberba cidade, que reina vitoriosa no mundo dos espíritos, vinga-se pelo riso de todas as injustiças, de todos os suplícios, de todas as dores, de todas as tiranias!

(...)

Por eu dizer que Paris ri, não digo que ela deixa de pensar [...]»

---
Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921)
in Cartas a Luísa

«La frontière de l'aube» - Trailer

25 de fevereiro de 2010

As Mais Famosas Meretrizes Da História (2)


Mata Hari

Gonçalvismo!

«Companheiro Vasco

Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço

Há quem queira fazer marcha atrás
Há quem queira meter o travão
Mas o povo acelera e faz
O caminho da revolução

Há quem queira mandar para os quartéis
Os soldados, nosso povo armado
Mas a casa dos amigos certos
É na rua e do nosso lado

Há quem queira deixar esta terra
Ao alcance dos monopolistas
Mas o povo não desarma e diz
Não queremos os capitalistas

Há quem queira deixar como está
O poder dos latifundiários
Mas o povo não alinha mais
Co'a preguiça dos senhores agrários»

---
Carlos Alberto Moniz (1948-)

24 de fevereiro de 2010

Chile, Chile, Chile.


Estou-me nas tintas para o que está na montra das livrarias. Estou-me nas tintas para os labirínticos esquemas de venda das editoras. Estou-me nas tintas para se este homem era um agarrado ou não. Estou-me nas tintas para se este tipo era de esquerda, direita ou apolítico. Estou-me nas tintas para os livros da moda. Estou-me nas tintas para se ele é um best seller depois de morto. Estou-me nas tintas.

Porque este homem, meus caros, Roberto Bolaño Ávalos, mais conhecido por Roberto Bolaño, puta que o pariu!, que génio do caralho!, escreve. mas escreve que se desunha!

Abertura de Ivan, o Terrível de Prokofiev

23 de fevereiro de 2010

As Mais Famosas Meretrizes da História (1)


Madame de Pompadour

Cozinhar, cozinhar...



Valha-nos a Engenharia alemã!

22 de fevereiro de 2010

A valorização de autores portugueses




Consta-me que temos vindo a assistir a um "boom" de interesse e de "reflexão" sobre Fernando Pessoa. É relativamente normal que assim seja, visto ser o primeiro autor estudado, compreensível pela maioria, pitorescamente, por estudantes do secundário. Não entendo eu como podem esses estudantes fascinar-se tanto por Pessoa, ao invés de outros autores como Gil Vicente, Vergílio Ferreira, Camões, Saram... Saramago é um caso diferente, firma-se como tão importante quanto Pessoa mas não tão acessível, primando por um estilo enquistado numa pontuação atípica, num conteúdo prolífero em metáforas sociais, numa catadupa de palavras caras, de tal modo que quando lhe lemos uma palavra com - vá... - mais de sete letras sentimos que é a primeira vez que a lemos na obra, não obstante já termos passado da página duzentos. Não é cativante, parece que aquilo não progride. Eu percebo "estudantes-do-secundário-que-se-eternizam-estanques-pela-desfiguração-em-Pessoa". Pessoa é fácil, é bonito, é familiar, é um eterno adolescente, é um traumatizado, fala de flores e de ovelhas, fala de riachos, de porcas e outras ferramentas, de odes, de descobrimentos, de reis, consoante o lado para onde acorde; tudo bem, não o condeno, e é um bom poeta, ou um óptimo poeta e um bom escritor em geral, mas... independentemente disso, faz uso de uma métrica simples e que prima pelo impacto. Não aquece nem arrefece. Parece-me a mim.

Eu gostava mesmo era que se alimentasse o despique quase hooligan de Saramago versus Lobo Antunes. Este último é uma puta. Daquelas que nos dá prazer com frases longas e ondulante, mas coerentes e ricas. Muito ricas. Lê-lo é uma fenomenal orgia de referências, de ideias, de momentos, e a descrição que deles faz assemelha-se a um retrato do pensamento humano ao longo das vinte e quatro horas de um dia, do pensamento de um homem médio e comum. Ninguém até hoje me conseguiu incutir essa ideia como ela. Em todas as artes. Lobo Antunes, é muito honestamente um escritor para Nobel, signifique isso o que significar, e muito me custaria vê-lo esticar o pernil sem o receber; como aconteceu a Updike e a Amado, entre outros. Acho ainda, e informo em confissão, que ao lado de Luiz Pacheco e de Vergílio Ferreira, António Lobo Antunes é a proa da prosa portuguesa do século XX.

E, sim, chamo-lhe puta e sinto-lhe gratidão por isso. Eu também sou uma puta, para ele. E ele sabe do que falo...

Obrigado.

Ah pois é...


Alguém duvida que Alberto João Jardim está, neste preciso momento, a pensar:
«E agora? Quem é que me recusa o que quer que seja? Heim?»

21 de fevereiro de 2010

O acampamento

Descubra as diferenças:



CCB = Centro de Campismo Berardo

20 de fevereiro de 2010

Ora aqui está um trecho digno de registo

«Nos seus acessos de misoginia o médico costumava classificar as mulheres consoante o tabaco de usavam: a raça Marlboro-sem-ser-de-contrabando lia Gore Vidal, passava o verão em Ibiza, achava Giscard d'Estaing e o príncipe Filipe muito pêssegos e a inteligência uma maçada esquisita; o tipo Marlboro-de-contrabando interessava-se por design, bridge e Agatha Christie (em inglês), frequentava a piscina do Muxaxo e considerava a cultura um fenómeno vagamente divertido quando acompanhado do amor do golfe; o género SG-Gigante apreciava Jean Ferrat, Truffaut e o Nouvelle Observateur, votava Socialista e mantinha com os homens relações ao mesmo tempo emancipadas e iconoclastas; a classe SG-Filtro tinha o poster de Che Guevara na parede do quarto, nutria-se espiritualmente de Reich e de revistas de decoração, não conseguia dormir sem comprimidos e acampava aos fins-de-semana na lagoa de Albufeira conspirando acerca da criação de um núcleo de estudos marxistas; o estilo Português-Suave não se pintava, cortava as unhas rentes estudava Anti-Psiquiatria e agonizava de paixões oblíquas por cantores de intervenção feios, de camisa da Nazaré desabotoada e noções sociais peremptórias e esquemáticas; por fim, o lumpen do tabaco de mortalha enlanguescia ao som dos Pink Floyd em gira-discos de pilhas junto à Suzuki do amigo de ocasião, adolescentes fazendo reclame aos amortecedores Koni nas costas dos blusões de plástico. À margem desta taxonomia simplificada situava-se o grupo da Boquilha, menopáusicas donas de boutiques, de antiquários e de restaurantes em Alfama, tilitantes de pulseiras marroquinas, saídas directamente dos esforços dos institutos de beleza para os braços de homens demasiado novos ou demasiado velhos, que lhes ajardinavam as melacolias e as exigências em duplexes a Campo de Ourique, inundados na voz de Ferré e dos bonecos da Rosa Ramalho, e onde as lâmpadas indirectas tingiam os seios gastos de uma penumbra púdica e favorável.»

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António Lobo Antunes (1942-)
in Memória de Elefante

18 de fevereiro de 2010

E a deontologia?

No Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses pode ler-se, no n.º 2, que o jornalista deve combater o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas como uma grave falta profissional e, no n.º 7, que o jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado.


Mas em que país é que nós estamos?
Ponham rédeas curtas nessa gente!

URSE


Para quando uma União das Repúblicas Socialistas Europeias?

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

«Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os Homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de infinito!
Por elmo, nas manhãs de ouro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!»

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Florbela Espanca (1894-1930)

17 de fevereiro de 2010

Pintura de Klimt & Soneto de J. P. Rato e Cunha


Hope I, Gustav Klimt (1862-1918)

(clicar na imagem para aumentar)

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«Soneto à Ângela

Bela, pele morena e robusto peito,
deixas todo o homem de pau feito.
Aquele teu quente túnel mui visitado
é hoje percurso doce e alargado.

Tu, ó Ângela, que tanto andaste,
foi neste badalo que te montaste.
Foste a Marte e com ele levaste,
passaste por Vénus e n'ele fecundaste.

Mil voltas deram desde os colhões
(cada bicho do bando de campeões)
mas nada valeu teres esfregado sabões!

Se fosse outra a queca martelada
e almejasses ter sido bem enrabada:
não serias agora bovina emprenhada.»

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José Pombo Rato e Cunha (1948-)

Era tão bom para a República...

Pena não fazerem todos como este. Assim o laranjal secava de vez!

13 de fevereiro de 2010

«Amanhã no pátio interior, quando o sol raiar e com floretes»

Sejamos francos, Portugal, está na merda. Afundado em esterco até à goela. E eu não gosto do governo que temos, é demasiado sibilante, compreendem? Não me é fácil encontrar melhor palavra; talvez reptilíneo. Ouvem-se constantes suspeitas por isto e por aquilo (alguma há-de ser verdadeira porra!), acena-se dia sim dia sim com o alibí da crise económica mundial, achincalha-se na AR qualquer intervenção que ponha em causa o espírito "reformista" e "salvador" do executivo de Sócrates, faz-se política de bolso, barata, fácil, usa-se retórica de manual, desfazada e matemática - se A é B, e se C é A, logo, B é C; é deprimente -, pergunta-se a toda hora "e o que é que o senhor(a) fez quando estava no governo?", falta de humanismo, falta de frontalidade, não há homenzinhos, há esquemas; não há vontade, há interesses; não há responsabilidade, há o constante virar de tabuleiro. A situação é grave e grotesca. Portugal tem um cancro a crescer dentro de si; e como se tal não bastasse, o PSD, partido patriota e aventureiro (sem rumo, claro), vem pedir, para bem sabe-se lá de quê, que o Primeiro-Ministro se demita, claro está que o paladino do executivo - Silva Pereira - acenou com um punho nu e disse "Esses assuntos resolvem-se nas eleições!". Desconheço a reacção oriunda do PSD, mas quero imaginar que pensaram todos em uníssono " é melhor escolhermos wisely o próximo queque de calça bege, camisa azul céu aberta, botão dourado e sapato vela, que nos vai liderar daqui em diante": "Directas em Março!" clamam em coro. Pede-se um golpe de misericórdia para uma das partes desta contenda, e não o darei eu, pois quanto a mim, nem pena tenho, só vergonha. "Directas em Março!"

Desabafo

A faculdade só iluminará o povo quando lhe pegarmos fogo!

Zoologia.




Nunca Portugal foi tão parecido com um animal, neste caso, com o polvo. Octopoda. Invertebrado. Camuflado. Canibal. Com braços e tentáculos que a todo o lado poderosamente chegam. Não há escapatória possível... Que fait?...

Em-si; goleada: França: 3 - Alemanha: 0


Jean-Paul Sartre



Albert Camus



André Gide

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Um Professor meu disse um dia numa aula teórica, e nunca mais me saiu da cabeça, que os Alemães, seres nefastos e perturbados, nada percebiam de filosofia, que estavam sempre encafuados em casa a pensar, desligados da vida e da humanidade, pelo frio que se faz na Alemanha, que falavam por falar e escreviam por escrever, atendendo sempre ao mundo oculto e irreal que criavam nas suas mentes; já os franceses, voltavam-se para o mundo exterior, pensavam-no e questionavam-no, viviam; tendo sempre a sociedade e a existência do Homem como pano de fundo, filosofavam para o povo e pelo povo, nada mais lhes interessava, nada mais construíam... Tenho a acrescentar que aos alemães, para o bem ou para o mal, escapa um homem pelo seu percurso de vida. Marx.

12 de fevereiro de 2010

Profetizando e Homenageando...

«E foi assim que desembarquei em Lisboa e segui para Coimbra. A Universidade esperava-me com as suas matérias árduas; estudei-as muito mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel; deram-mo com a solenidade do estilo, após anos da lei; uma bela festa que me encheu de orgulho e de saudades, - principalmente de saudades. Tinha eu conquistado em Coimbra uma grande nomeada de folião; era um acadêmico estróina, superficial, tumultuário e petulante, dado às aventuras, fazendo romantismo prático e liberalismo teórico, vivendo na pura fé dos olhos pretos e das constituições escritas. No dia em que a Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso. Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava liberdade, dava-me responsabilidade. Guardei-o, deixei as margens do Mondego, e vim por ali fora assaz desconsolado, mas sentido já uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver, - de prolongar a Universidade pela vida adiante [...]»

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Machado de Assis (1839-1908)
in Memórias Póstumas de Brás Cubas (Cap. XX, Bacharelo-me)

«Há laranja a qualquer preço!»

Primeiro, Pedro Passos Coelho. Depois, Paulo Rangel. E agora, José Pedro Aguiar-Branco. O PSD não tem remédio. Horas após o anúncio da candidatura de Aguiar-Branco à liderança do laranjal, ainda a votação do orçamento do Estado estava a fumegar, já a matraca de serviço, José Pacheco Pereira, vinha para a praça pública apelar à sua desistência. O problema não é serem vinte ou trinta candidatos às eleições internas daquela coisa. O problema é que o PSD deixou de ser um partido com ideias definidas e passou a ser um mercado, uma praça, em que cada peixeira apregoa o que quer e ao preço que quer, sem qualquer sanção. O melhor seria mesmo a dissolução.

10 de fevereiro de 2010

Pintura de Kush & Soneto de Anselmo


Horn of Babel, Vladimir Kush (1965 - )

(clicar na imagem para aumentar)

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«Soneto de todos os cornos

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antonio por corno perdeu a c'roa;
Anfitrião com toda a sua proa
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.»

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José Anselmo Correa Henriques (1777-1831)

4 de fevereiro de 2010

Um mal necessário

«[...] As leis boas para a sociedade são, no entanto, muito más para o indivíduo que a compõe; pois, por mais que o protejam ou abonem, perturbam-no e aprisionam-no durante três quartos da sua vida; também o homem sensato e cheio de desprezo por elas as tolera, como faz relativamente às serpentes e às víboras, as quais, embora firam ou envenenem, servem, contudo, algumas vezes, a medicina [...]»

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D. A. F. de Sade (1740 - 1814)
in A Filosofia na Alcova

1 de fevereiro de 2010

A República é de todos

Vede, portugueses, que ao contrário do que muitos afirmam, os reis e os príncipes não são educados nem treinados para governar. Nada disso! Os monarcas não governam. Os monarcas reinam. Logo, não podemos considerar a monarquia uma forma de governo, porque a última coisa que o rei faz é governar. A monarquia é, antes, uma metáfora de Estado que não pode ser levada a sério. Porquê? Porque é uma brincadeira familiar baseada no incesto político cheio de veludo e pouco conteúdo. É a água choca institucional. A República é de todos, a monarquia é só de alguns. Portugueses, sede sensatos, nós precisamos é de governantes.