«Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.»

Vergílio Ferreira (1919 - 1996)


Pinceladas

27 de janeiro de 2010

A coisa. Qual coisa!?

«No-B day
Se Cícero ainda vivesse entre vós, italianos, não diria "Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?", mas sim: "Até quando, ó Berlusconi, atentarás contra a nossa democracia?" Disso se trata. Com a sua peculiaríssima ideia sobre a razão de ser e o significado da instituição democrática, Berlusconi transformou em poucos anos a Itália numa sombra grotesca de país e uma grande parte dos italianos numa multidão de títeres que o seguem de rastos sem se aperceberem de que caminham para o abismo da demissão cívica definitiva, para o descrédito internacional, para a irrisão absoluta.

Com a sua história, a sua cultura, a sua inegável grandeza, Itália não merece o destino que Berlusconi lhe traçou com criminosa frieza e sem o menor vestígio de pudor político, sem o mais elementar sentimento de vergonha própria. Quero pensar que a gigantesca manifestação contra a "coisa" Berlusconi, na qual estas palavras irão ser lidas, se converterá no primeiro passo para a libertação e a regeneração de Itália. Para isso não são necessárias armas, bastam os votos. Ponho em vós toda a minha esperança.»

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José Saramago (1922 - )
in Diário de Notícias, O Caderno de Saramago
(9 de Dezembro de 2009)

24 de janeiro de 2010

J'aime les filles françaises!



La Valse des Monstres de Yann Tiersen. Interpretado por Anna, de 17 anos, residente em Chalon-sur-Saône, França.

Sexo & Feministas

Uma grupeta de investigadores americanos descobriu que a prática de sexo diminui a tensão arterial e ajuda a reduzir a incidência de diabetes. Porém, o estudo só foi feito em homens! Coitadas das feministas que vão já impugnar e hastear a bandeira, sem «mastro!» claro, por não as terem incluído na investigação.

20 de janeiro de 2010

Tragédia no Haiti

Com todos os pêsames e com a devida vénia, mas o meu pensamento resume-se a isto:



Obrigado!

"Radetzky March", Op. 228 de Johann Strauss



Radetzky March, Op. 228 de Johann Strauss. Interpretado pela Orquestra Filarmónica de Viena, sob a direcção de Herbert von Karajan, em 1987.

19 de janeiro de 2010

Res publica

Apenas cerca de 20% dos países são monarquias. Contam-se pelos dedos! Valha-nos o pingo de sanidade da maioria, como dizia o outro. Já vi inúmeras monarquias a virarem república; quantas repúblicas é que já viraram monarquia!? Gosto da al. b) do art.º 288.º da CRP.

17 de janeiro de 2010

Quinta do Crasto Touriga Nacional


«Apenas engarrafado nos anos em que se atinge um alto nível de qualidade, este vinho é feito com 100% de uvas da casta Touriga Nacional.

Cor viva e concentrada, aroma intenso a fruta madura com notas de boa madeira. Grande presença na boca, macio e redondo, tudo muito bem afinado. Final longo e especiado.

O Quinta do Crasto Touriga Nacional 2001 e 2004 obteve 96 pontos na Wine Spectator.» Mais informação, aqui.

16 de janeiro de 2010

George Baker's "Little Green Bag" & Tarantino's "Reservoir Dogs"



E, aqui, a intro do trabalho de Quentin Tarantino.

Pré-histórico!

Por isto se vê o discurso cavernicola da Igreja Católica e de todos aqueles que lambem o escroto aos barões dessa instituição.

13 de janeiro de 2010

Agrada me no desespero

(sem título)

Agrada me no desespero
não te sintas como amigo
estupidamente feliz
e acaricia-me o cabelo

Vês como ele brilha
com a luz do sol
que não quebra
nem parte, como o anzol

Se queres casar comigo
corre comigo nas ruelas
atira aos pássaros pedras
enfeitiça-me com a tua infância

A tua infância
tão doce, escorrida
tão triste, com a distância

Se queres casar comigo
entende-me com o teu propor
acha-me, sem esplendor
faz de mim uma, contigo

Contigo, tudo se move
a minha criança descobre
contigo, nada me morre
e até a saudade escorre!

Se, queres, casar comigo
vem ter amanhã ao adro
não há padre, nem diabo
há paz, há crianças, Há fado!

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Sofia do Carmo Miguel

Correspondência interna IV

Mal passado; sempre. Mas só se for carne de vaca.

Correspondência interna III

Passado.
Um jovem.
Queres o bife bem ou mal passado?

Correspondência interna II

Partido Socialista. Frente Socialista Popular. Movimento Socialista Unificado. União de Esquerda Socialista Democrática. Frente Republicana e Socialista.

No planeta Terra.

Queixinhas da queixinhas

«Gertrude Stein era uma queixinhas. E com as suas queixas rotulou aquela geração. Mas era tudo treta. Não havia qualquer tipo de movimento, nenhum bando coeso de niilistas fumadores de erva a vaguear de um lado para o outro à espera que a Mamã os conduzisse para fora do deserto dadá. O que havia era muita gente mais ou menos da mesma idade que atravessara a guerra e que agora escrevia ou compunha, ou lá o que era, e outras pessoas que não tinham passado pela guerra e ou desejavam tê-lo feito ou desejavam escrever ou se vangloriavam de não ter participado na guerra. Ninguém que eu tenha conhecido naquela altura se considerava portador das cores da Geração Perdida, ou ouvira sequer a designação. Éramos uma turba bastante unida. As personagens em Fiesta eram trágicas, mas o verdadeiro herói era a terra, e ficamos com a sensação do seu triunfo ao submeter-se para sempre.»

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Ernest Hemingway (1899 - 1961)

Correspondência interna I

Rolim, em que planeta é, António Vitorino, de esquerda?

Serviço público democrático

Um órgão de comunicação social deve ser independente e imparcial. Um órgão de comunicação social público deve sê-lo ainda mais, dando o exemplo. Por isso não me repugna, como a alguns, que a RTP não renove o contrato, em finais de Fevereiro, com Marcelo Rebelo de Sousa. É legitimo que não o faça para já, em nome da independência e da imparcialidade, uma vez que António Vitorino sairá de cena na mesma altura. Ou seja, seria absurdo renovar sem ponderar. Seria precoce e pouco democrático dar voz à direita e não dar voz, simultaneamente, à esquerda. Afigura-se, por isso, necessário criar um novo formato para os programas de comentário político e nada impede, que num futuro próximo, não possamos todos voltar a ouvir Marcelo. Sejamos pacientes. Como diria o Professor nas suas Escolhas: "A RTP portou-se bem. De zero a vinte!? Quinze valores!".

11 de janeiro de 2010

Pergunta

Qual é, verdadeiramente, a diferença entre a ETA e os movimentos de libertação das ex-colónias ultramarinas? Que semelhanças há entre a Catalunha, o País Basco e a Galiza, e o resto de Espanha? Quais os interesses do governo de Madrid em manter uma manta de retalhos?

9 de janeiro de 2010

Um problema da democracia representativa

«Parlamentos variáveis
Nos métodos democráticos de atribuição de representantes jogam diversos factores: os votantes do censo, os partidos concorrentes à eleição e o tamanho do parlamento, quer dizer, o número de lugares a ocupar. Nos Estados Unidos, o número de lugares no Congresso foi evoluindo com os anos, ao terem sido ensaiados diversos modelos possíveis. Tudo começou em 1880, com o problema do Alabama. Com o método de Hamilton, então vigente, quando se passou dos votos aos representantes, verificou-se que o Alabama tinha 8 representantes se a Câmara tivesse 299 lugares, mas apenas 7, se a Câmara tivesse 300. O «paradoxo» do Alabama consistia em que este estado tinha menos representação se a câmara fosse maior. Desde então, o número de lugares e os métodos de atribuição têm variado: a proporcionalidade admite muitos modelos!»

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Claudi Alsina (1952 – )
in O Clube da Hipotenusa

O PSD não é um partido

O Partido Social Democrata deixou de ser um partido. Já não o é. É, antes, um movimento cívico com as ideias baralhadas, mas que também quer participar. Tem todo o direito. Porém, é de esperar que não se perceba a maneira através da qual pretende participar. Se o PSD fosse uma entrada era, certamente, o pão d'ontem com paté de aroma a sardinha; se fosse um prato não seria mais do que a roupa velha, feita somente com os restos de uma consoada (ou de um congresso qualquer), não esquecendo toda a mistura de ideologias própria de um movimento de cidadãos; por fim, se fosse uma bebida era, sem dúvida, um café. Porquê!? Porque muitos dos membros daquele movimento não conseguem sobreviver sem ele.

Toda a lei é justa

«[...] é desnecessário perguntar a quem pertence o poder de fazer leis, porque elas são actos de vontade geral; nem se o príncipe está acima das leis, porque ele é membro do Estado, nem se as leis podem ser injustas, porque ninguém é injusto consigo próprio. Também é desnecessário perguntar como se pode ser ao mesmo tempo livre e submetido a leis, porque elas mais não são do que registos da nossa vontade [...]»

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Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778)
in Do Contrato Social

8 de janeiro de 2010

Oriente vs Ocidente

A República Popular da China é frequentemente descrita como um Estado autoritário de partido único, socialista, e com fortes limitações legais em diversas matérias, nomeadamente a privação de liberdades de reunião, de imprensa, de direitos reprodutivos (política do filho único) e de religião. Os Estados Unidos da América são muitas vezes descritos como os senhores da liberdade, os donos da democracia. Ideologias à parte, vamos aos factos. A China tem quatro vezes mais população do que os Estados Unidos, porém tem menos de metade da criminalidade. Além, todo o arguido se presume culpado até prova em contrário. Aqui, todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação. Ambos os Estados têm pena de morte. Conclusão, na China: mais população, menos índice de criminalidade.

Dizei-me qual o sistema mais eficiente. Dizei-me quem está certo...

Justitia, hoje...

Hoje, dia 8 de Janeiro, é o dia da deusa Justitia, segundo a mitologia romana. Parece que não foi por acaso que o Parlamento decidiu, neste mesmo dia, rejeitar a petição de referendo laranja, selvagem e discriminatória, ao mesmo tempo que aprovou a proposta do Governo em que é reconhecido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, combatendo, desta forma, a discriminação e a injustiça que existiam na sociedade portuguesa. Palavras para quê?!

Acendei incenso de lavanda...

6 de janeiro de 2010

Ironia do destino

Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Ao que parece, a esquerda, por volta do ano da graça de 1997, através do Partido Socialista, durante a revisão constitucional desse mesmo ano, propôs que passasse a ser possível os cidadãos entregarem uma petição de referendo ao Presidente da República sem que fosse necessário a aprovação desta na Assembleia. Porém, as laranjinhas, que tinham como "barão-mor" o Professor (leia-se Marcelo Rebelo de Sousa) decidiram fazer birra e travar a proposta socialista. Resultado!? Passados 13 anos (número do azar), a direita vê-se agora vítima do seu próprio destino uma vez que, para a aprovação da sua petição, tem que enfrentar e derrubar uma maioria de esquerda no Parlamento.

5 de janeiro de 2010

"Assemblée Au Champignon"

Este belo Portugal transforma o plano político dos referendos num campo de cogumelos selvagens. Em que o campo é a Assembleia da República e os cogumelos são os referendos. Porquê selvagens!? Porque quem os defende, em massa, só não espuma da boca devido ao facto de ser bem educado e parecer mal. Os cogumelos multiplicam-se como se não houvesse amanhã fazendo, assim, com que por tudo e por nada se almeje um referendo. Põe-se de lado a democracia representativa, enfia-se a cabeça na areia e lá vão eles, hoje, todos contentes, de tira laranja ao pescoço, tentar dar mais uma machadada no erário público. É o novo prato típico português (com notas francesas): Assemblée Au Champignon.

António de Oliveira Salazar

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
......
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Pica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...
......
Coitadinho
do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

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Fernando Pessoa (1888 - 1935)
in Da Républica (1910 - 1935)

Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão. Lisboa: Ática, 1979.

4 de janeiro de 2010

Albert Camus: "50 ans après sa mort"

4 de Janeiro de 2010.
Faz hoje 50 anos que faleceu este ícone da Literatura.

Considerações post-revolucionárias


«O que é preciso é a criação de um novo partido adequadamente apto a compreender, integrar e representar o que há de, a um tempo, intelectual e salvador, o que de verdadeiramente renascente [?] e regenerador há entre nós. Esse partido deverá constituir-se quanto antes, logo que apareçam os homens novos capazes de lhe tomar a chefia. Deve ser rigorosamente individualista, nitidamente desdenhoso de tudo quanto, entre o tumultuar moderno, representa, embora sob a forma de progresso, degenerescência e debilidade sociais. Deve ser um partido novo inteiramente, onde possam ingressar quantos representem quer forças de regeneração, quer desejos intensos dela; e alheio aos homens cuja predominância, antes e depois da revolução, os incompatibiliza, não a todos com uma aspiração honesta e sincera, mas a todos com um modo certo e apto de a realizar. Nada de B[ernardino] M[achado], de Af.º C.ª, de António José de Almeida; nada de Machado Santos, (...) Nada disso presta para a construção. Serviram para o período e durante o período revolucionário. A sua missão terminou. A sua sobrevivência intrigante causa um doloroso desprezo. Alguns são sinceros, mas nenhum o sabe ser.»

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Fernando Pessoa (1888 - 1935)
in Da Républica (1910 - 1935)

Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão. Lisboa: Ática, 1979.