«Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.»

Vergílio Ferreira (1919 - 1996)


Pinceladas

17 de junho de 2011

A atipicidade inesperada da simplicidade da aurora

Não, isto ainda não morreu.
Interrompo deste modo o retiro espiritual em que nos encontramos nas Cavernas Budistas de Ellora, acto contínuo, apanho um autocarro indescritível juntamente com mais setecentas ou setecentas mil pessoas para a cidade mais próxima que fica a 30km, chama-se Aurangabad, um local horrível para se viver e demais actividades inerentes, somente, para dizer isto:
Aconteceu o que mais se temia, um CDS nos assuntos sociais.

7 de março de 2011

Epiphany Haze

O mundo árabe cai em dominó. O Egipto já se safou de um ditador, a Tunísia continua numa chuva de gentes e de pedras, o Bahrein está de simitarras apontadas à fronha de uma minoria sunita bem resfastelada em cadeirões de seda ao mau gosto de árabes pomposos (tudo em ouro!), o povo líbio morre numa resistência estóica contra aquele senhor de óculos e lençol que faz discursos paranóicos e exotéricos num perfeito delírio de ácidos. É só berros, lamentos, porrada de meia-noite, calçadas descarnadas, inglês macarrónico defronte das camâras e microfones da CNN e da Sky, bandeiras queimadas, correrias ao sol, tudo por um fim vago que se adivinha perigoso e que é perpetuado por um movimento fantasmagórico, dissimulado. Irmandade Moçulmana? USA? U2? B52?, não sei, e, verdadeiramente, ninguém sabe. Rumores correm no sentido de, quem ateou o rastilho querer controlar o comércio de droga proveniente do magrebe. Estou a brincar. Inventei agora. Mas dá dinheiro. Seria plausivel. Não sei. Não percebo muito disso.
Entretanto, esta imparável caminhada de gigantes chegou a Portugal. O primeiro passo foi dado pelos Deolinda com uma malha que a todos chama parvos e escravos, arrebatando consciências e pondo um movimento em marcha. Se mais nada resultar disto, já me dou por contente pela minha geração, finalmente, ter nome. São coisas que me preocupam, já me sentia perdido. Agora, dia 12, vamos todos manifestar-nos e queimar e partir umas montras em Lisboa com a ajuda do Black Block, dos tipos do Zeitgeist, dos anarcas, e dos que apreciam, como quem aprecia um bom tabaco, violência de massas. Até aqui, tudo bem. Não sejamos meiguinhos. É mais censurável pagar quinhentos euros a um licenciado durante três anos do que pegar fogo à Armani.
Sócrates teima em não cair. O PSD, máquina, prolonga-lhe a vida com um prazer mórbido. Vão brincar com o caralho que vos foda. Se são alternativa, mãos à obra, não há tempo para brincadeiras.
"Ontem, roubaram o título ao Benfica" (como se o Porto fosse perder os pontos suficientes para sermos campeões).
Murphy, do Samuel Beckett, tem a melhor primeira frase da literatura inglesa.
O regime vai mudar?
Preferem Indica ou Sativa?
O Bastonários pondera emigrar, só ainda não sabe se o destino é Pequim, Montevideu, ou Rio de Janeiro.
Bolaño, Bolaño, Bolaño.
É como vos digo, está a puta armada, estamos todos a viver um delicioso momento histórico.
Um beijo.


7 de fevereiro de 2011

One more american mistake

Depois de dias e dias de inércia, só justificados pela imperiosa necessidade de uma viagem à Tunísia e ao Egipto, do qual saímos ontem depois de almoço, literalmente, com o rabinho entre as pernas, reabrimos o bastonários, pela enésima vez (patético), com a notícia de que a Christina Aguilera se enganou a cantar o hino na final do Super Bowl defronte de milhões e milhões e milhões de pessoas, americanos, italo-americanos, latino-americanos, afro-americanos, o Renato Seabra, o Carlos Bicudo. A vergonha pela qual passou a menina Aguilera a cantar o The Star-Spangled Banner, só pode ser comparável à minha quando tinha seis anos, e numa peça da escolinha me mijei todo, vestido de rei mago. De todo o modo, eu fico-me pela versão do Hendrix. Chovem comentários nas redes sociais, para cada dez de insulto, há um de agradecimento, em regra, vindo de um egípcio, uma vez que uma americana muito loura e muito tonta, conseguiu destronar a maravilhosa rebelião do país dos faraós do tópico mais citado do Twitter. Afinal, era tudo simples...