«Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.»

Vergílio Ferreira (1919 - 1996)


Pinceladas

19 de dezembro de 2009

Aimar


Pablo Aimar. El Mago. O jogador que eu contratava sempre que me chegava às mãos uma nova versão do CM. Este poço de talento foi considerado o melhor jogador argentino da década. No llores por mi Batistuta, Verón, Messi, Riquelme...

As opiniões...

«As opiniões são como as vaginas. Cada um tem a sua e quem quiser dá-las; dá-las. Certo!?»

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Dra. Rute Remédios

15 de dezembro de 2009

Dr. Pedro Nunes: demita-se!


O Ministério de Mariano Gago apresentou hoje um novo curso de Medicina na Universidade de Aveiro que resulta de uma pareceria entre esta e a Universidade do Porto. Dois grandes titãs académicos. A objectividade e seriedade científica não estão aqui, sequer, em discussão. Porém, o suposto "representante" da classe médica em Portugal, o dr. Pedro Nunes, já está histérico e dá-se ao luxo de afirmar, de forma arrogante e desonesta, que esses futuros médicos ficarão no desemprego.

É preciso uma grande falta de sensatez e seriedade para proferir tais palavras num país onde a falta de médicos é uma realidade, num país onde a importação de médicos espanhóis e brasileiros é um facto. Considerando que a profissão de médico é uma das mais elegantes e nobres do Mundo é vergonhoso que este senhor seja o representante da classe. Este curso vem, sem dúvida, contribuir para a minimização dessa falta de profissionais e responder às necessidades do país. Repugna a atitude do "pseudo-bastonário", pois recuso-me a acreditar que os médicos estão a ser representados pela boca desta personagem. Seria mais humilde e profissional da parte dele abandonar o cargo e disponibilizá-lo, mui gentilmente, a alguém que, de facto, represente de forma séria a classe médica deste país.

Na mesma linha doutrinária de desprezo pelos doentes está a Federação Nacional dos Médicos que também se orgulha de apontar o dedo ao curso de Aveiro alegando que os novos diplomados vêm "fragilizar a profissão". Esta ideia defendida pela federação é infantil e, estrondosamente, mimada. Veja-se que esses futuros profissionais, certamente, serão tão bons ou melhores que os médicos actuais, pois como já disse a qualidade do curso não está em causa. Estamos perante duas prestigiadas instituições de ensino superior público de valor e trabalho científico internacionalmente reconhecido sendo, por isso, impossível que a profissão saia "fragilizada". Pelo contrário. Sai fortalecida! Resta, então, concluir que a única coisa a sair "fragilizada" é o monopólio que os médicos actuais detêm; quando estes novos médicos vierem fazer concorrência aos actuais Donos e Senhores da Medicina.

Sobre o projecto Gutenberg e os "e-books"

Sim. Eu tenho muitas dúvidas. Em primeiro lugar, é um "fenómeno" muito localizado. Em segundo lugar, não representa de modo algum um "fabuloso avanço para a Humanidade" - como dizem alguns analfabetos na sua linguagem eufórica - não é claro que assim seja. O cume de toda esta parafernália de declarações extasiadas ainda não foi avistado, pois ainda não se viram ecologistas a hastear a bandeira das árvores derrubadas pelo papel para os livros. Não há-de faltar muito.

Eu, pessoalmente, encaro com naturalidade esta história do e-book: é um gadget como qualquer outro, e que será comprado por quem "é muito à frente". Tudo bem. Agora, advogar que esta merdinha vai substituir o livro é hediondo, senão mesmo delirante: estamos a falar de milhões de obras, de incontáveis folhas, de obras-primas, de desgraças, de pequenos contos, de intermináveis romances...

Até agora só ouvi uma pessoa a comparar este "fenómeno" ao da máquina fotográfica digital vs. analógica, ao do DVD vs. VHS; valha-nos o pingo de sanidade da maioria...

Argumenta-se que este (e não só este) será o derradeiro passo para a democratização da leitura e das obras. Pois eu a estes respondo: vão-se foder, comecem por baixar o preço dos livros. Enfiem as "Bibliotecas Digitais" por onde reinam as trevas...

O Jardim das Delícias


Escrevo-vos de Portugal, lindo país onde nasci há uns anos. Geneticamente somos latinos, confusos, emotivos, atrapalhados com os desafios, desenrascados, impulsivos, brigões, aventureiros, intrujões, deliciosamente preconceituosos. Não me arrependo, e mesmo que me arrependa, agora, nada há fazer. Enquanto crescia, alegremente me ia deparando com personagens icónicas do nosso pequeno recanto, com a Rua Sésamo, com os desenhos animados nipónicos transmitidos pela recém autorizada estação privada de seu nome SIC (valha-nos o honroso primeiro-ministro Cavaco, as suas cargas policiais, as propinas, o seu majestoso bolo alimentar), com a Ana Malhoa, e com outros que agora não me apraz recordar.

Depois entrei numa fase de maior, suposta, maturidade mental e social, e comecei a interessar-me por alguma da política que por cá se fazia, dei de caras com Guterres - a maior ilusão da minha vida - e com as suas contas de cabeça, com Cavaco antes dele e com Cavaco depois de todos os outros, com Santana Lopes - o homem que não mantém clubes de futebol em termos próprios, casamentos, casas, noites e estados - e o resto do PSD e os seus botões dourados, calças bege, sapatos vela, e retórica Ateniense; apareceu depois o Durão Barroso - esperto tipo me parecia este, mas na verdade não valia um chavo – e vendeu-se a uma pseudo-federação por tuta e meia, graças a Deus trocava-o até por um cromo da Panini; veio o Sócrates e um PS omnipresente e indestrutível, vieram as barracas e os casos de p'xota (leia-se PJ). Tudo isto me divertiu e me diverte quando recordo.

Mas nada, senhores, nada me diverte mais que "três duques" mais negros que a mais negra noite, mais maliciosos que o Dr. Morte, tão insanos e requintados e imprevisíveis que fariam corar Hannibal Lecter, tão corruptos e desonestos que nem as RAF saberiam o que lhes fazer - tanto seria o ódio que lhes teriam -, tão incontornáveis que mais depressa me lembraria das suas biografias do que da primeira dinastia portuguesa, tão louca e perigosamente hilariantes, tão magnéticos, tão misteriosos que seriam eles a admitir na sua esfera a Vril e não inverso... Falo-vos de Alberto João Jardim, de Avelino Ferreira Torres e de Fátima Felgueiras.

Brevemente, dissecaremos cada uma destas peças do xadrez que é o nosso Portugal, para que finalmente, e com a vossa ajuda, possa exorcizar os meus mais profundos medos.

Projecto Gutenberg: para quem ainda tem dúvidas

Eça de Queirós, Cesário Verde, Camilo Castelo Branco, Dostoiévski, Júlio Verne, entre outros... Trezentos e setenta e cinco é o número de obras que existem em língua portuguesa disponibilizadas pela Biblioteca Internacional Projecto Gutenberg, segundo avança o Diário de Notícias.

Aos poucos e poucos, com a ajuda de muitos, vai-se construindo este pequeno grande mundo literário. Alguém, ainda, tem dúvidas sobre o sucesso deste projecto?

11 de dezembro de 2009

Extremo II

(Soneto da Donzela Ansiosa)

Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombra subtis pachacho estreito:

De louro pêlo em círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branca crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:

Como é inda boçal, perde os sentidos:
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.

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Bocage (1765 - 1805)

Extremo I

Oriente

Este lugar amou perdidamente
Quem o cabo rondou no extremo Sul
E a costa indo seguindo para Oriente
Viu as ilhas azuis do mar azul

Viu pérolas safiras e corais
E a grande noite parada e tranparente
Viu cidades nações viu passar gente
De leve passo e gestos musicais

Perfumes e tempero descobriu
E danças moduladas por vestidos
Sedosos flutuantes e compridos
E outro nasceu de tudo quanto viu

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Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004)

"Slumdog Millionaire", Barack Obama & Igreja

No início do ano, em Fevereiro, é atribuído, pela Academia de Hollywood, o Óscar de melhor filme do ano ao patético Slumdog Millionaire que nem sequer devia estar nomeado, uma vez que representou o que de pior se fez nos últimos anos.

Ontem, a Academia Sueca, entrega, oficialmente, a Barack Obama o Prémio Nobel da Paz subscrevendo, dessa forma, a politização definitiva do prémio e a tentativa de colocar o Presidente entre a espada e a parede. Por um lado, a Academia começa a perder objectividade científica e a tentar fazer futurologia barata; por outro, o prémio começa a perder interesse.

Hoje, é anunciado o galardoado do Prémio Pessoa. D. Manuel Clemente. Bispo do Porto! Tendo em consideração que a filosofia do prémio é a protagonização de uma "intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país" é de concluir que a Igreja Católica através da boca deste senhor tem, de facto, contribuído de forma relevante para o pilar artístico, literário e científico deste país!? Não creio. Tem contribuído, sim, para uma psicose político-social enterrando a cabeça no Cálice e tapando a boca com hóstias. Pararam no tempo.

Vamos ver o que se segue...

"Racing Is In My Blood"


Ayrton Senna foi ontem considerado o melhor piloto de todos os tempos. Basicamente, demos a "César o que é de César". Um ser humano maravilhoso, e um piloto impressionante. Está para nascer alguém melhor. Está mesmo.

Manoel de Oliveira passa o século


Faz hoje cento e uma Primaveras!

Um grande bem-haja para este Senhor da sétima arte. Sim! Não é da sétima arte portuguesa; é da sétima arte em geral.

A Arte Erudita da Bebida Espirituosa

Ao pegar numa garrafa de Whiskey ou vinho, deparamo-nos com vários caminhos a tomar. Podemos emborcá-las pela garganta abaixo como um a antídoto, e podemos ainda depois disso cuspir e dizer de nossa justiça que tal é a alma da bebida. É um emprego de sonho. Mas sonho ainda mais belo é o emprego que é descrever no rótulo da garrafa Vossa Senhoria, a bebida.

Que relação leva a que um homem (ou mulher) descreva um vinho ou um Whiskey como tendo carácter? Como sendo límpido? Como sendo gentil? Como "arquejando notas silvestres"? Que raio se pode fazer com uma garrafa para que o seu conteúdo arqueje?! Sim, estamos a imaginar o mesmo, amigo. Não és melhor que eu.

Imaginemos em conjunto a situação de eu estar ao lado de um empecilho academicamente perito em Álcool e d'ele me dizer que o vinho cujo valor ascende a três digitos que acabou de cuspir para um balde "tem uma personalidade gentil, notas frescas de Abril, e uma pitada de atrevimento no palato". Se um homem diz isto de uma bebida, que dirá de uma mulher? Será que também a bochecha e cospe? Será que, por analogia, lhe dá um pontapé depois de a por a arquejar, e de seguida elogia-a com uma destreza de palavreado que a iça até ao puro e ao divino?

Não compreendo, palavra que não.

Ficam aqui algumas adjectivações e notas a dizer de mulheres em vez de bebidas:
"Tem personalidade"
"Tem carácter"
"Tem notas silvestres"
"Tem notas frescas"
"É gentil"
"É serena"
"Sabe a fruta..."
"É encorpada..."
"É macia..."
"É de uma doce acidez"

Cuidado, os contextos em que estas palavras podem ser disparadas, são tão perigosos com armadilhas para ursos... senão as forem mesmo...

10 de dezembro de 2009

Partida

Nesta noite em que vos escrevemos isto, morrem crianças em África e suicidam-se suecos por falta de electrodomésticos da Bang & Olufsen, Sócrates dorme tranquilamente enquanto o país se afunda e o resto da classe política portuguesa acompanha-o no mundo dos sonhos, o Cristiano Ronaldo liga para uma linha erótica e a Academia Sueca termina a lista dos nóbeis para os próximos dez anos, a cultura portuguesa continua a criar peixes de água quente em aquários de água fria e peixes de água fria em aquários de água quente, descobre-se a cura para a "micose bubónica" e os extraterrestres desinteressam-se pela Terra - acham que os recursos que vão perder para a tomar não serão compensados pelos que conseguirão -, a Margarida Rebelo Pinto escreve o último parágrafo do seu quadragésimo romance sobre mulheres na casa dos quarenta e João Pereira Coutinho acaba - finalmente - de dar lustro à sua testa imensa e cristalina. Mas nada disso interessa, porque nesta noite de Dezembro do ano de Nosso Senhor de 2009 nascem os Bastonários do Pincel.

Certamente estarão a pensar que será mais um espaço de trampa intelectual e de opinanço em série. Têm razão. Mas acima de tudo e de todos, e por cima de tudo e de todos, será um espaço de plena liberdade. Tudo aqui será admitido. Não somos pela anarquia, mas roça-mo-la, assim como nos roçamos em si sem se dar conta enquanto lê isto.

Aventura-mo-nos pelo el dorado que se encontra entre a liberdade e o absurdo, entre a permiscuidade e a plena emancipação carnal, entre a traição e o egoísmo, entre a merda e o divino. Precisamos da vossa ajuda. Quase... Estou a brincar, não precisamos nada. Queremos que se fodam. Queremos ressuscitar mortos. (Não, não vos pedirei que votem em nós, e nem para isso terão oportunidade). Usufruam deste pincel de prata e pêlos de cauda de unicórnio que vos damos para a mão. É um presente nosso, dos deuses gregos, dos deuses egípcios, dos deuses celtas, do Sade, do Pacheco, do Miller, do Hemingway, do Amado.

Trataremos em conjunto da cultura, da actualidade, dos outros, dos problemas de imaginação de que sofremos quotidianamente, e de toda a casta de seres humanos qualificados, rotulados e estruturados em milhões de categorias, de todas as cores, gostos, sabores, tamanhos, crenças, lacunas, e de tudo o resto que nos e vos aprouver. Agora e para todo o sempre.

Ámen.

Bill e Rolim Beltrão