«Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.»

Vergílio Ferreira (1919 - 1996)


Pinceladas

11 de dezembro de 2009

A Arte Erudita da Bebida Espirituosa

Ao pegar numa garrafa de Whiskey ou vinho, deparamo-nos com vários caminhos a tomar. Podemos emborcá-las pela garganta abaixo como um a antídoto, e podemos ainda depois disso cuspir e dizer de nossa justiça que tal é a alma da bebida. É um emprego de sonho. Mas sonho ainda mais belo é o emprego que é descrever no rótulo da garrafa Vossa Senhoria, a bebida.

Que relação leva a que um homem (ou mulher) descreva um vinho ou um Whiskey como tendo carácter? Como sendo límpido? Como sendo gentil? Como "arquejando notas silvestres"? Que raio se pode fazer com uma garrafa para que o seu conteúdo arqueje?! Sim, estamos a imaginar o mesmo, amigo. Não és melhor que eu.

Imaginemos em conjunto a situação de eu estar ao lado de um empecilho academicamente perito em Álcool e d'ele me dizer que o vinho cujo valor ascende a três digitos que acabou de cuspir para um balde "tem uma personalidade gentil, notas frescas de Abril, e uma pitada de atrevimento no palato". Se um homem diz isto de uma bebida, que dirá de uma mulher? Será que também a bochecha e cospe? Será que, por analogia, lhe dá um pontapé depois de a por a arquejar, e de seguida elogia-a com uma destreza de palavreado que a iça até ao puro e ao divino?

Não compreendo, palavra que não.

Ficam aqui algumas adjectivações e notas a dizer de mulheres em vez de bebidas:
"Tem personalidade"
"Tem carácter"
"Tem notas silvestres"
"Tem notas frescas"
"É gentil"
"É serena"
"Sabe a fruta..."
"É encorpada..."
"É macia..."
"É de uma doce acidez"

Cuidado, os contextos em que estas palavras podem ser disparadas, são tão perigosos com armadilhas para ursos... senão as forem mesmo...

0 bastonada(s):

Enviar um comentário