Tenho lido nestas últimas horas todo o tipo de infâmias e prepotentes declarações em blogs sobre Saramago, o seu percurso de vida, e as suas convicções. Raras vezes tive o prazer de ler esta ou aquela crítica à sua monumental obra. O homem morreu, como é natural, e vêm, agora, à baila todos os eventos que tendem a ser mal interpretados e bem aproveitados pelos espíritos mais tacanhos e perversos. O episódio do DN e o seu comunismo são relembrados. Mais, o seu mau comunismo: não era um militante exemplar do PCP, e nunca se absteve de criticar o seu partido e o rumo da esquerda portuguesa, por vezes, com um claro desfasamento; nunca se absteve de criticar a sociedade civil (muito me custa usar esta expressão) sem dela fazer parte. Todavia, não esqueçamos a forma vil como foi coagido a deixar o país pelo anedótico Sousa Lara e pela sua análise supra ignorante de uma obra deveras inteligente como o Evangelho Segundo Jesus Cristo.
Ninguém, das pessoas em quem eu depositava algumas esperanças, analisou e lamentou a perda de um escritor pioneiro e ousado num estilo novo de escrita, transportador de uma visão do mundo. São muitos os livros em que denota uma rara genialidade comunicativa, que, apesar de arriscada, nunca foi desdenhada e abandonada. É um escritor na linha de Faulkner ou Borges. Ninguém exalta a coerência de um sujeito que viveu a sua vida como a apregoou, que tinha valores e convicções suspensas no seu ser desde o berço ao seu leito de morte, das quais nunca, nunca abdicou. O episódio do DN, excessivo mas justificável, espelhou isso mesmo. Não ouvi ninguém falar de saneamentos quando o Prof. Saldanha Sanches faleceu, nem vou ouvir falar dos mesmos quando Durão Barroso, ex-MRPP, morrer. Mas enfim, a mente humana tende a ser selectiva.
Tenho tido diante dos meus olhos a ignorância de quem opina sobre uma personalidade que não compreende, de quem destrói uma obra literária e de vida com argumentos infantis e fúteis, assaz difusos e insuficientes a toda a prova.
Queria apenas acabar desejando umas boas férias ao Professor Cavaco Silva e ao Dr. Jaime Gama. Também queria dizer ao Henrique Guerra Capelas do Postura de Estado que sinto pena dele, mas que estou disposto a ajudá-lo.
Não merecemos o que temos e o que vai perdurar. Cabeças como as de José Saramago não se compram na praça.
Ide-vos foder, todos.
«O que realmente nos separa dos animais é a nossa capacidade de esperança.» - José de Sousa Saramago
2 bastonada(s):
A mente pervertida de um comunista deturpa os fenómenos da natureza, subjugando-os à anarquia socialista da desordem e da igualdade travestida, que alimentam a máquina enraivecida com a meritocracia.
Obrigado pela compaixão. Mas, independentemente disso, devo dizer que dispenso a tua pena e a falsa disposição para me ajudares. Mais agradeço as palavras caras e, mais do que isso, carinhosas com que me presentei-as com o "Ide-vos foder (...)". Sentirei a falta do escritor porque sinto a falta da Arte. Não sentirei a falta do homem. Não é Oscar Wilde que diz que "a obra separa-se do autor"? Concordo com esta afirmação.
Mais ainda, é triste reparar que, debaixo dessa capa da tolerância que tanto (ou tão pouco) marca a "esquerda", se esconde tanto repúdio por opiniões diversas, se exibe um desprezo por coisas e pessoas que se não conhecem e - cereja no topo do bolo - se ofende premeditada e descaradamente essas pessoas. Sim, eu também.
Na esperança de poder falar cara a cara, aqui deixo este comentário. Se conhecem o Duarte, também me conhecerão a mim. Até lá.
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