Interrompo deste modo o retiro espiritual em que nos encontramos nas Cavernas Budistas de Ellora, acto contínuo, apanho um autocarro indescritível juntamente com mais setecentas ou setecentas mil pessoas para a cidade mais próxima que fica a 30km, chama-se Aurangabad, um local horrível para se viver e demais actividades inerentes, somente, para dizer isto:
Aconteceu o que mais se temia, um CDS nos assuntos sociais.
O mundo árabe cai em dominó. O Egipto já se safou de um ditador, a Tunísia continua numa chuva de gentes e de pedras, o Bahrein está de simitarras apontadas à fronha de uma minoria sunita bem resfastelada em cadeirões de seda ao mau gosto de árabes pomposos (tudo em ouro!), o povo líbio morre numa resistência estóica contra aquele senhor de óculos e lençol que faz discursos paranóicos e exotéricos num perfeito delírio de ácidos. É só berros, lamentos, porrada de meia-noite, calçadas descarnadas, inglês macarrónico defronte das camâras e microfones da CNN e da Sky, bandeiras queimadas, correrias ao sol, tudo por um fim vago que se adivinha perigoso e que é perpetuado por um movimento fantasmagórico, dissimulado. Irmandade Moçulmana? USA? U2? B52?, não sei, e, verdadeiramente, ninguém sabe. Rumores correm no sentido de, quem ateou o rastilho querer controlar o comércio de droga proveniente do magrebe. Estou a brincar. Inventei agora. Mas dá dinheiro. Seria plausivel. Não sei. Não percebo muito disso.
Entretanto, esta imparável caminhada de gigantes chegou a Portugal. O primeiro passo foi dado pelos Deolinda com uma malha que a todos chama parvos e escravos, arrebatando consciências e pondo um movimento em marcha. Se mais nada resultar disto, já me dou por contente pela minha geração, finalmente, ter nome. São coisas que me preocupam, já me sentia perdido. Agora, dia 12, vamos todos manifestar-nos e queimar e partir umas montras em Lisboa com a ajuda do Black Block, dos tipos do Zeitgeist, dos anarcas, e dos que apreciam, como quem aprecia um bom tabaco, violência de massas. Até aqui, tudo bem. Não sejamos meiguinhos. É mais censurável pagar quinhentos euros a um licenciado durante três anos do que pegar fogo à Armani.
Sócrates teima em não cair. O PSD, máquina, prolonga-lhe a vida com um prazer mórbido. Vão brincar com o caralho que vos foda. Se são alternativa, mãos à obra, não há tempo para brincadeiras.
"Ontem, roubaram o título ao Benfica" (como se o Porto fosse perder os pontos suficientes para sermos campeões).
Murphy, do Samuel Beckett, tem a melhor primeira frase da literatura inglesa.
O regime vai mudar?
Preferem Indica ou Sativa?
O Bastonários pondera emigrar, só ainda não sabe se o destino é Pequim, Montevideu, ou Rio de Janeiro.
Bolaño, Bolaño, Bolaño.
É como vos digo, está a puta armada, estamos todos a viver um delicioso momento histórico.
Depois de dias e dias de inércia, só justificados pela imperiosa necessidade de uma viagem à Tunísia e ao Egipto, do qual saímos ontem depois de almoço, literalmente, com o rabinho entre as pernas, reabrimos o bastonários, pela enésima vez (patético), com a notícia de que a Christina Aguilera se enganou a cantar o hino na final do Super Bowl defronte de milhões e milhões e milhões de pessoas, americanos, italo-americanos, latino-americanos, afro-americanos, o Renato Seabra, o Carlos Bicudo. A vergonha pela qual passou a menina Aguilera a cantar o The Star-Spangled Banner, só pode ser comparável à minha quando tinha seis anos, e numa peça da escolinha me mijei todo, vestido de rei mago. De todo o modo, eu fico-me pela versão do Hendrix. Chovem comentários nas redes sociais, para cada dez de insulto, há um de agradecimento, em regra, vindo de um egípcio, uma vez que uma americana muito loura e muito tonta, conseguiu destronar a maravilhosa rebelião do país dos faraós do tópico mais citado do Twitter. Afinal, era tudo simples...
A minha primeira ideia era a de incluir este post em "Os Podres", mas rapidamente desisti dela ao aperceber-me que entraria num combate desigual, num David Vs. Golias. Tal como seria infantil eu privar uma criança de um doce só porque eu chego à última prateleira e ela não. No entanto, não poderia passar em claro a pérola de chocolate branco envolto em trufa que o Três Irmãs me oferece para enrolar na minha longa língua e esmagar contra os molares da minha boca. A jóia da coroa, é, obviamente, a Dra. Marta Rebelo, jurista, "escritora", "cinéfila", "assistente", ex-assistente, e depois, "assistente" de novo, mas mais importante que tudo, e oh deus se isso não abona a seu favor, benfiquista. Depois temos outra mana, a Catarina, não há nada a dizer, apenas que vai ser mãe, os parabéns aqui do pessoal do Bastonários. Por fim, há ainda a Maria Caetano, e esta sim, é algodão doce para preencher teses de antropologia e psicologia; tenho vontade de lhe perguntar as influências, as leituras, os "ismos", perguntar-lhe o que acha do anjo caído de Milton ou do Inferno de Dante, se Faulkner era atrasado mental ou se Hemingway era um barranco, perguntar-lhe qual o melhor romancista tuga do séc XX, e se prefere a "oficina de escrita" ou a "escrita torrencial", mas tenho grandes reticências a que aceitem as minhas perguntas na sua, irónicamente, quadrada caixa de comentários. Passo a transcrever: "sou, talvez, sim, aspirante a escritora... uma expressão que soa nos meus ouvidos como que pistas para completar o mapa que trago no bolso de trás das calças de ganga escura. há um festival de propostas para as minhas supostas aspirações... chego a receber ideias de onde devo ser "aspirada" . mas concluo. por enquanto, serei aspirante a pessoa. uma boa se for possível ... convosco, familia. porque é isso que somos, as três e mais alguns. assim serei... escritora, actriz, medica, fisica, o que for. mas pessoa, humana ao maximo, correcta por vezes, maior certamente.".
O problema, aliás, reside em mim, e é assaz grave e incurável, eu estou habituado a blogs cujo nível é muito elevado, ou muito elevado de tão baixo, como o A Causa Foi Modificada ou o Da Literatura ou o Geração de 80, e isso cria em mim expectativas catedráticas, pelo que, quando encontro um feliz espaço onde três irmãs encaixam as suas paixões, os seus medos e anseios, as suas alegrias, aventuras e desventuras, tudo à laia de uma produção nacional paupérrima e barata, tudo desaba. Já não consigo não, ouvir música da melhor, ou ler livros do melhor (esta é para si, Dra. Rebelo), ou pedir no Gambrinus o prato mais caro recheado pelo segundo mais caro, em suma, tornei-me num monstro, no fruto da elite, da nata dos blogs, leitor atento e doentiamente ansioso de sempre mais e mais e mais e mais. Já não lido bem com as cousas simples da vida, com o povo e o "terra a terra", e um dia, um dia destes, habilito-me a levar um tiro nos cornos como aconteceu ao Rei D. Carlos, numa verdadeira postura de estado. Obviamente isto não é mais do que uma gargantuana crueldade da minha parte, uma pequena macro mesquinhez tacanha, mas não resisto, é o acto pelo acto, ao estilo de Breton. A jovem tem apenas dezasseis anos. Tem vergonha, Bill.
A hipotética "dra." Clara Ferreira Alves (chegou com dificuldade ao actual 12º ano), crítica literária que leu (jura ela) "os clássicos", especialista do último escritor inglês com quem almoçou, autora de um romance anunciado em 1984 e nunca até agora publicado, dona de uma coluna ilegível (e bem escondida) na "revista" do Expresso, foi um dia arvorada directora da "Casa-Museu Fernando Pessoa" pela conhecida irresponsabilidade de Pedro Santana Lopes, de quem ela tinha sido uma entusiástica partidária. Daí em diante, a importantíssima Ferreira Alves e o "Pedro", como ela dizia, ficaram muito amigos. Tão amigos que a "dra." Clara apareceu um dia presuntiva directora do "Diário de Notícias", coisa que me levou a sair antes que ela entrasse. Felizmente, não entrou, porque teve medo de cair na rua entre o "Expresso" e o DN, com a reputação de uma "santanete" obediente. Agora, morto o seu patrono, não perde uma para o maltratar, supondo que demonstra "independência". Ontem, a propósito de um "Audi", que o homem comprou, despejou em cima da cabeça dele todo o lixo do mundo. Santana não aprendeu que a certa espécie de pessoas não se fazem favores. Se a "dra." Clara me quiser responder, sugiro que me responda em inglês e não meta na conversa a sua célebre descrição do pôr-do-sol no Cairo. Muito obrigado.